“A previsão é de tempo bom. Não só para o tempo hoje, mas para o nosso curso de meteorologia e para a nossa instituição”, já avisou a reitora do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), Maria Clara Kaschny Schneider, na abertura das comemorações dos 10 anos da Estação Meteorológica do Câmpus Florianópolis, na manhã desta sexta (28), no auditório.
“A gente escuta que o Brasil não tem memória, ou que não valoriza o seu passado. O evento de hoje é para nos lembrarmos das vitórias e com uma homenagem especial ao professor e ex-deputado estadual Lício Mauro da Silveira, que batizará a Estação Meteorológica daqui para frente. O professor Lício muito contribuiu para a instalação da estação e, por consequência, para o curso técnico em Meteorologia”, afirmou o diretor-geral do câmpus, Maurício Gariba Júnior.
O coordenador do curso técnico em Meteorologia, professor Mário Quadro, fez um breve resumo da história do curso e, seguindo o slogan da comemoração (Revendo o passado e olhando o futuro), falou dos planos para a área no IFSC. “Estamos prevendo a implantação de um mestrado profissional na área ambiental, em parceria com um grupo de pesquisa de Itajaí e também ofertar o curso técnico em Meteorologia na modalidade integrado, pois hoje temos apenas o subsequente”, explicou o professor.
Quadro também enumerou as diversas conquistas ao longo desse tempo, como a formação de um corpo docente extremamente capacitado e com formação na área. “A maioria dos nossos professores são meteorologistas que não tiveram disciplinas de licenciatura. Por isso, agradecemos ao IFSC a capacitação que nos deram nesse sentido, além dos investimentos. Desconheço um curso técnico em Meteorologia que tenha a capacidade tecnológica que temos aqui”, agradeceu o coordenador.
“Ter profissionais qualificados era uma demanda da Epagri. Afinal, a previsão do tempo é a primeira coisa de que o cidadão precisa saber ao acordar, para saber o que vestir. E para essa previsão ser bem feita, precisamos das estações e de pessoas que saibam trabalhar nelas”, afirmou Edson Silva, gerente do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina, vinculado à Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Ciram/Epagri), que prestigiou a apresentação. Também estiveram presentes Clóvis Correa, meteorologista do Ciram/Epagri e Maurici Monteiro, representante da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Rural Sustentável do Estado de Santa Catarina (Fundagro), entre outras autoridades, professores, ex-professores, alunos e ex-alunos.
Em seguida, o professor Michel Muza apresentou algumas das informações obtidas durante esses 10 anos na Estação Meteorológica. Segundo o levantamento, o índice de dados faltantes (dias em que não houve coleta de dados por falta de pessoal ou problemas no equipamento) é de 0,5%. “Não sei de nenhuma outra estação com uma ‘idade’ mais avançada em que o índice de dados faltantes seja tão baixo”, completou. Ele explicou também como esses dados viram ferramentas nas mãos dos técnicos. “Uma coleta simples de dados, sobre a ocorrência de chuva, por exemplo, transforma-se em muitas informações, como por exemplo, o índice de precipitação, meses mais e menos chuvosos, quantidade de dias seguidos de chuva, entre outros”.
Após a apresentação no auditório, todos seguiram para a Estação Meteorológica Lício Mauro da Silveira, onde puderam conferir de perto os equipamentos e também as estações portáteis, última aquisição do curso – equipamentos de ponta para poder monitorar locais específicos ou eventos extremos, como ventos fortes, neve e furacões.
Em frente ao banner comemorativo da Estação, o professor Sérgio Uda, que coordenou o processo de implantação do curso e da estação e hoje é diretor-geral do Câmpus Gaspar, lembrou mais uma vez a importância histórica desse dia. “Quando se pensa em história, não devemos nos atentar apenas a fatos, porque quem faz os fatos são as pessoas. O professor Lício foi fundamental, mas ele também não foi o único, houve toda uma organização e uma luta de vários professores e a ajuda de vários profissionais, que também queremos agradecer”.
A celebração encerrou com uma palestra do professor Daniel Calearo sobre o Furacão Catarina – cuja passagem pelo Sul do Brasil também completou 10 anos. Como estava trabalhando no então Climerh, que hoje é o Ciram, o meteorologista pode dar detalhes de todo o trabalho de meteorologia desenvolvido entre os dias 23 (quando foi percebida a primeira formação fora dos padrões sobre o Atlântico) e 28 de março de 2004, quando o fenômeno perdeu forças. “Como era algo inédito, demos muitos passos no escuro, mas com um trabalho bem coordenado e abnegado”, lembrou Callearo. O meteorologista da Epagri Clóvis Correa lembrou que, por insistirem na intensidade do fenômeno, contrariando outros centros e institutos meteorológicos, a equipe chegou a ser alvo de piadas. “Mas uma decisão precisava ser tomada, e, pensando na população, demos nossa cara a tapa”, afirmou Calearo.
Ao responder sobre se o Estado de Santa Catarina poderia lidar melhor hoje com um novo furacão, o professor foi taxativo. “Não existe política de governo aliada a estratégias ligadas à Meteorologia e prevenção de desastres meteorológicos. Vejo a nossa área sendo usada como uma ferramenta, como um degrau para alguma coisa, mas não vejo a Meteorologia recebendo dos governos os recursos para poder dar a resposta que lhe é cobrada quando acontecem eventos desse tipo”, finalizou Calearo.